De Repente Trinta

Erilaine Perez


De repente trinta. Agora já posso falar de coisas que aconteceram há vinte anos. Mas a realidade é que, diferente da grande maioria das mulheres, a idade é coisa que não tem grande importância para mim. Pensei que talvez acordasse hoje sentindo algo diferente, estranho ou inusitado... e nada... A manhã raiou quente como a de dias anteriores e a rotina foi a mesmice de sempre, salvo o abraço mais demorado que o de costume.

De repente trinta...e não tenho vontade de frequentar a academia, começar uma dieta à base de líquidos ou inaugurar o creme antirradicais livres. Porém, uma apurada percepção de que ainda falta muito para alguém que apressou alguns eventos e retardou outros. A faculdade começada em hora tardia, a carteira de motorista que ainda não tenho, a segurança financeira não conquistada... Observo que tenho mais idade que meus colegas, porém, estou a perseguir os mesmos sonhos, talvez com a relevante diferença de uma vontade mais intensa, mais pensada, mais sabida. De repente trinta... e a certeza de que os amores da juventude nem eram tão amados assim, que as perdas de ontem não foram tão irreparáveis, que eu não era tão fraca quanto os outros me faziam sentir, e que pra sempre é lugar que não existe.

Todo o definitivo se perdeu, e eu não me tornei uma hippie eterna a advogar por causas impossíveis. O mundo não mudou para melhor, o armagedon não aconteceu no ano 2000, o consumo de água continua sendo questão de debate, e os europeus continuam dizendo que o Brasil precisa de mais 500 anos. Trinta anos e ainda sou romântica, gosto de laços e vestidos, sapatos de boneca, flor no cabelo, batom vermelho, e acredito que a feminilidade jamais pode estar dentro de botas e de jeans apertado. Sonho com uma vida de poesia, música em volume baixo e domingo no sofá. Trinta anos e um amor de verdade para viver o lado bom e o ruim, para aprender juntos, e para inspirar mais trinta.

0 comentários: