Perfeito

Julia Trombini (judtrom@hotmail.com)

Perfeito pode ser um
Pode ser viajar, ou ficar em casa;
Perfeito pode ser um momento,
Ou uma vida inteira;

Pode ser um beijo,
Ou um amor de muitos anos;
Perfeito sempre é o que não é esperado,
Ou talvez, o que é muito esperado;
É o que você vê, ou o que não vê;

Perfeito pode ser ensaiado,
Ou improvisado,
Pode ser o doce ou pode ser salgado;
Perfeito pode ser uma palavra,
Ou uma letra;

Perfeito é tudo aquilo
Que nos faz bem
E que sem saber
Por que a gente reconhece na hora!

Blog: http://janicejuliaproducoes.blogspot.com/

Falar...


Luciana Nogueira (hysteric.angel@hotmail.com)

Ah. Sinceramente, acho que estou perdendo este dom.
Sempre falei tanto, que começo a achar que ultrapassei algum limite inestipulado e quebrei meu microfone. Nunca desvalorizei tanto as palavras como faço agora.
Quer saber? Palavras não valem nada. Não existe contrato assinado que impeça um homem de quebrar suas promessas, se ele assim o quiser. Inverdades podem ser ditas, e delas podem surgir juramentos inválidos - eternamente condenados a existirem em reles semi-vidas.
A cada novo segundo que penso, tento converter minha confusão em palavras bonitas, consequentemente elaboradas. Isso tornou-se um hábito tão certo quanto respirar quando se tem um coração pulsando. Como se cada nota que brota em minha mente viesse a ser escrita um dia, na vã esperança de encontrar um meio de afrouxar o aperto que comprime as costelas e dificulta a respiração.
Em meio a tanto, dialogar passa a ser ligeiramente... estranho.

Por trás das palavras


Lucas Pasini


A palavra sangra, a palavra salva. Pode ser o alívio ou também levar ao calvário. A palavra escorre por entre os dentes e se apresenta por entre sorrisos amarelados, levando junto à esperança, mudando um destino estraçalhando sonhos. A palavra pinta um sorriso numa face triste, é capaz até de curar feridas da alma. É capaz de fazer até o sol aparecer no meio de uma tempestade e aquecer um coração. A palavra chega e me enfrenta sem razão, vem cheia de sombras deixando escuro o clarão. Ostenta os desejos e me deixa os medos e fica gravada nas lembranças por entre mágoas e rancores.

A palavra pode ser uma flor a desabrochar no inverno, que transforma a nostalgia de uma paisagem acinzentada no colorido verde-esperança de um recomeço, fazendo-nos reerguer a cabeça e voltarmos a trilhar o caminho dos sonhos.
As palavras têm um poder infinito e desmedido, um tanto desconhecido de transformar, e sempre devem ser bem pensadas antes de serem faladas, pois podem até uma vida destruir ou salvar.

As duas violências


Carlos Giovani Delevati Pasini

Existem dois tipos de violência no mundo: a explícita e a implícita. A primeira, ameaçadora à existência física, surge devido às necessidades materiais (ganância), de sobrevivência (fome, frio etc) e como fonte de recursos para obter drogas (crack etc). É constatada em furtos, brigas, assassinatos e outras ocorrências. É um tipo de agressão de fora para dentro. A outra violência é a pior, miúda em percepção e imensa em danos. Está escondida em atitudes cínicas, fofocas ofensivas e em outras reações negativas, que visam o fracasso alheio.

Hoje, na era dos pós-internáuticos, se tornou comum, com traços destrutivos, fazendo parte dos relacionamentos interpessoais, quase atingindo a genética humana. É um modo de agressão de dentro para fora. O mundo (e Santiago) padece com essas formas de violência. O que fazer? De fora para dentro, só nos resta torcer que a selva de pedra em que vivemos seja sorteada com atitudes milagrosas, ou no mínimo inteligentes, de nossos governantes. Nesse caso, sugere-se o investimento em educação.

De dentro para fora, cabe o repensar as próprias atitudes, rever os erros e (auto)criticar a postura pejorativa que por vezes está em nossa conduta. Nesse ponto cabe um autoinvestimento em reeducação. Só assim passaremos a interferir neste mundo caótico, do mais perto para o mais afastado e, talvez, o futuro de nossos netos se torne tão saudável quanto o dos nossos avôs, onde o bigode era sinônimo de responsabilidade e honra.

A Troca


Marcus Vinícius Manzoni (marcusviniciusmanzoni@gmail.com)

Entrei no ônibus que vinha de Bossoroca pra Santiago do Boqueirão, procurei minha poltrona e sentei. Eis que vem em minha direção um senhor de idade e senta ao meu lado.
Eu disse: “Bom dia, senhor.”
Ele me respondeu, no pleno ar da sua criação bagual, um estendido: “Óh! Que tal?”
Disse eu: “...frio que está fazendo hoje, não?”
Disse ele: “Rapaz, eu vou te contar. Isso aqui tá uma umidade bárbara”. Concordei, na fidalguia: “E como está!”

Compartilhamos uma conversa anônima, sem saber um do outro. Sem saber do dinheiro ou da profissão. Um papo além da porteira da inibição, o momento foi uma troca de nada por coisa nenhuma. E isto se confirmou nas últimas palavras do velho.
Despediu-se, dizendo: “Tchê! Eu desço aqui na Chácara São Pedro. Obrigado por deixar o meu dia como estava quando acordei.”
Despedi-me, retribuindo: “Disponha.”