Espaços

Erilaine Perez (galega.perez@gmail.com)

A solidão que sinto vem das multidões, do meio da rua. Vem dessas casas que se amontoam com paredes cada vez mais próximas. Desses bichos perdidos e pedintes nas esquinas, sem donos. Dos teus olhos que não me enxergam, fixos noutro ponto. A solidão que sinto é cada vez mais antiga. Vem de momentos que já passaram, de coisas que se perderam e de gente que foi embora.

Em que esquina estarão perdidas junto com os seus bichos?E teus olhos? Que caminhos escolheram junto com o teu coração? A solidão que sinto vem,cada vez mais, do intelecto. Dos livros que li, dos jornais que folheio, das notícias que escuto, das pessoas que observo. Meus ouvidos, feridos pela consciência, se afastam do som e me encapsulam: placebo inútil. Quem escutará o que tenho apreendido? A solidão que sinto vem da minha verdade. Algo que emerge de rios subterrâneos e tão particulares, que não pode ser comum a nenhuma outra pessoa. Quem me dará razão?

A solidão que sinto vem do coração: física e metafísica feito sombra e luz. Uma adversidade em que nada comunga, porque se concentra no território mais difícil de acessar.
Quem não enlouqueceria num labirinto assim? A solidão que sinto é cada vez mais do cansaço. De andar em ruas cheias de gente, em ônibus lotados, em salas claustrofóbicas, em livros do mundo. Espaços e coisas tão cheias de todos. Vazios de tudo.

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