Lembranças do futuro

Carlos Giovani Delevati Pasini (gpasini@ig.com.br)

A lembrança mais forte que tenho de meu pai, da época que eu ainda era uma criança, é a seguinte: ele sentado na frente de sua velha máquina Remington, trabalhando até altas horas da noite, em jornadas fora do expediente, justamente para adiantar e manter em dia o ofício para qual tanto se dedicava. Observei isso como uma grande qualidade e tento sempre seguir os seus exemplos. Confesso, caro leitor, que ainda estou “atarantado” com a notícia dada pelo médico, de uma forma um tanto fria, lá no Hospital de Caridade de Santa Maria: “Não tenho uma notícia boa, o seu pai faleceu...”.

O passado e o futuro se confundiram, as recordações felizes fizeram as lágrimas saltarem de meus olhos. Este podia ser um artigo triste, pois despedidas como essa se resumem numa dor quase insuportável, inaceitável e nocauteante. É comum, nesses momentos, buscarmos o amparo em Deus e foi o que fiz. Ao contrário, quero dizer que este é um artigo feliz! Por isso eu lhe digo: quando você achar que já disse uma quantidade suficiente de “eu te amo!” para a pessoa amada, saiba que ainda não é o bastante; e quando sentir vontade de estar junto com a pessoa que tem carinho e o trabalho não deixa, esqueça o trabalho.

A imagem que tenho de meu pai – trabalhador, inocente e carinhoso – carrega uma carga de amor tão grande, que peço a Deus (quase todo o dia) para que meus filhos gostem de mim tanto quanto eu gostava dele. Como eu disse, este é um artigo feliz! O meu velho pai cumpriu a sua missão muito bem, e eu pude agradecê-lo por tudo e dizer “pai, eu te amo”, enquanto ele entrava para a sala de cirurgia. Sou feliz, estou completo e tranqüilo. Aproveite esta tarde para dizer o mesmo para os seus pais, esqueça qualquer briga e abrace-os. Essas lembranças do futuro ficarão para sempre na sua memória...

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