Um enigma para a ausência

Erilaine Perez

Que manhã é esta em que o sol não beija as flores e não invade as janelas com seus pés de vento? Que manhã é esta que se afasta... Meus olhos cansados dançam na chuva dessas curiosidades claras. Pingam gotas nas roseiras da vizinha. Escorre cor de pétalas no gramado azul de céu. Nem os imensos espelhos das águas refletiriam tão bem essa cor. A cor do céu na terra em dias sem sol.

Que manhã de dia enluarado. Que manhã! Mescla de tanto e de tão pouco. Simbiose das forças da natureza. Raio obliterado entre nuvens de sal e algodão. Seta lancinante de luz. Tiro seco de som. Palma oca de afago. Cheia total dos sentidos. Nada de tudo num redemoinho de fios de cabelos e folhas. Que manhã alheia dos bichos. Ainda devem estar escondidos no sono que não amanhece. Não há pressa nos largos e esquinas. Não há pássaros madurando nos galhos. Não há canto. Enquanto o sol não é deflagrado o sangue não escorre...

Os olhos são vidro endurecido à procura de calor. Os ouvidos esperam a alvorada nascer da garganta dos galos...

O olfato nem belisca o aroma quente do café. Que manhã é esta em que a falta do dia confunde os sentidos? E que falta é essa que quase não se percebe em dias que não são assim? Nem respostas chegam nessa falta de atividade... Oxalá a cor da tarde enrubesça todas as faces, acorde os bichos, ative os sentidos, desvele todos os enigmas... A noite dê à luz a uma manhã de sol outra vez.

0 comentários: