Uma pequena lata de lixo

Giovani Pasini

Dias atrás, eu estava no gramado em frente da minha casa, sentado em uma cadeira de abrir, daquelas que se usa na praia. Meus pensamentos voavam em preocupações do trabalho. O chimarrão, de cor verde-clara, da cuia marrom e da água quente, estava estabilizado em minha mão direita. Meus olhos penetravam nas preocupações da profissão, vagando pelas gramíneas verdes de minha residência. Naquele instante, meus problemas pareciam ser os maiores do mundo!

Foi quando, nesse ínterim, observei uma velha senhora de cabelos brancos e feições maltratadas se aproximando pela calçada. Ela empurrava um pequeno carrinho, do tipo daqueles que tem em supermercado. Suas roupas eram esfarrapadas e seu andar parecia dificultado pela idade avançada. A pele escura contrastava com os dentes álveos. O carrinho, cheio de objetos disformes, rangia em cadência constante, ante ao empurrar trêmulo da mulher senil.

Quando, um tanto de repente, ela parou em frente ao meu portão, me encarou (no fundo da alma), sorriu e disse: “- Dá licença, que eu vou mexer na sua grande lixeira.”

Um raio cortou meu coração: seus olhos transmitiam uma felicidade tão intensa, enquanto remexia os restos de comida que eu havia desperdiçado. No final, após o contato com restos de alimentos, misturados a objetos nada higiênicos, ela ainda se despediu: “- Tchau! Muito obrigado!”. Só eu sei por qual motivo não tive coragem de lhe responder. Ao vêla se afastar, empurrando o seu destino, tive apenas a capacidade de pensar: “Muito obrigado, velha senhora. Sem saber, me fez compreender que a maioria de meus problemas cabe no fundo de uma pequena lata de lixo...”. Diferentemente das grandes lixeiras que ela conseguiu e, com certeza, sempre conseguirá superar.

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